Análise: Globo terá que incentivar liga de clubes se MP do Futebol virar lei

Análise: Globo terá que incentivar liga de clubes se MP do Futebol virar lei

22 de junho de 2020 0 Por Allan Simon

A MP (Medida Provisória) 984, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e publicada na última semana no Diário Oficial da União se propõe a alterar a lógica dos direitos de transmissão do futebol no Brasil, dominados desde 1987 pela Globo. Dá ao clube mandante o total poder sobre uma partida, uma ideia que já havia sido defendida por este blog no ano passado.

O Blog do Allan Simon apresenta no YouTube hoje uma análise sobre cada ponto que poderá sofrer impactos caso a MP vire lei. Se isso não acontecer, absolutamente nada será mudado no futebol brasileiro. Confira o vídeo abaixo:

– Por que a Globo deverá incentivar liga se a lei mudar direitos de transmissão?

Simples, desde 2011, quando o Clube dos 13 foi implodido graças a uma articulação liderada pelo Corinthians de Andrés Sanchez e com amplo apoio da Globo, as negociações pelos direitos de transmissão do Brasileirão deixaram de ser coletivas e passaram a ser individualmente realizadas entre emissoras e clubes.

Essa lógica foi útil para a Globo eliminar o fantasma de uma derrota para a Record em licitação com envelopes fechados no Clube dos 13. Venceria quem oferecesse mais dinheiro, e a emissora de Edir Macedo despontava à época com fortes investimentos no esporte, inclusive comprando os direitos exclusivos das Olimpíadas de Londres-2012.

Na negociação individual, prevaleceu a Globo com todos os clubes do Brasileirão. Mas, desde a quebra do monopólio da emissora em 2016, quando a Turner passou a adquirir os direitos de TV por assinatura de clubes como Palmeiras, Santos, Internacional, Bahia, Athletico Paranaense, Coritiba, Ceará, Fortaleza, Paraná Clube, entre outros, tudo passou a ser diferente.

O clima virou uma total insegurança. O Athletico se recusou a vender os direitos de PPV à Globo. O Palmeiras deu trabalho até com os direitos de TV aberta, que só foram vendidos com o Brasileirão 2019 já em andamento, assim como os de pay-per-view. Esse cenário gerou jogos que, de forma inédita na década, ficaram sem transmissão alguma em vídeo ao vivo, seja qual fosse a plataforma.

A MP 984 sozinha não quer dizer nada. Se não for apreciada pelo Congresso, morrerá em quatro meses sem deixar rastros de mudança no futebol brasileiro. Mas a mudança na lógica da venda dos direitos, conferindo ao mandante o direito total sobre seus 19 jogos na Série A, mas tirando completamente o poder sobre os outros 19 como visitante, tende a criar um cenário de insegurança ainda maior para quem acha possível viver sozinho.

Com cada time sendo dono e senhor do mesmo pacote de jogos, 19 por equipe, a formação de ligas se torna algo mais viável para evitar que Flamengo e Corinthians, por exemplo, abram ainda mais vantagem financeira. Uma emissora como a Globo jamais poderia se contentar apenas com a compra os jogos dessas duas equipes como mandantes, por mais que sejam os times de maior audiência.

Ter apenas jogos do Flamengo no Maracanã e do Corinthians em Itaquera seria algo impensável e perigoso para a Globo. Primeiro porque jamais a emissora poderia transmitir todos para os locais em que eles acontecem, sob pena de prejudicar a bilheteria dessas partidas. Segundo porque largar os direitos de outros clubes seria conferir a grupos rivais o direito de exibir Flamengo e Corinthians como visitantes.

Além disso, os clubes menores não venderiam simplesmente seus jogos contra a dupla mais popular do Brasil no varejo, jogo a jogo. Para ter essas partidas, é claro, seria necessário chegar a um acordo pelo pacote completo.

Só a criação de ligas bem amarradas, por mais que fiquem sem o Flamengo, faria a Globo controlar como faz há mais de 30 anos o futebol brasileiro. Nesse caso, ela recuperaria até o que perdeu com a chegada da Turner ao Brasileirão. Sentar com 18, 19, 20 clubes em uma entidade só é muito mais fácil e seguro do que negociar caso a caso. E o cenário econômico da próxima década não é promissor para imaginar que outra “Record de 2011” possa superar a Globo em uma negociação coletiva.

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