
Copa América mostra evolução do SBT e consolidação da fusão na Disney
11 de julho de 2021A Copa América 2021 quebrou jejuns também na mídia esportiva brasileira. Pela primeira vez desde 1989, as partidas foram exibidas pelo SBT. Mais: foi a primeira vez também desde os anos 1970 em que a Globo não transmitiu o torneio. Os canais Disney (ESPN e Fox Sports) também assumiram o papel que vinha sendo do SporTV nas últimas edições. E os trabalhos mostraram evoluções importantes.
Em junho de 2020, quando o Blog do Allan Simon começou sua trajetória no YouTube, dois vídeos se destacaram: um no qual abordávamos as dúvidas a respeito da fusão dos canais esportivos do Grupo Disney, e outro que contava a história de uma briga histórica entre SBT e Globo pela transmissão do Paulistão em 2003, mas em um tom de quem tratava a emissora de Silvio Santos como um player “finado” no mercado esportivo.
Um ano depois, as duas marcas participaram da cobertura de uma Copa América cercada de polêmicas, realizada em meio a uma pandemia e com troca de sede a poucos dias de seu início. O trabalho, portanto, era extremamente difícil: montar uma logística às pressas após ter tudo planejado para jogos na Argentina e na Colômbia.
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Lidar com a rejeição a um torneio que se misturou com política após o governo federal do Brasil ter sido fundamental para que o país recebesse em cima da hora a competição sem debate algum com a sociedade. Tudo isso aumentou uma dificuldade que já seria natural, principalmente para o SBT: enfrentar a Globo na briga pela audiência.
Há duas formas de olhar a Copa América por esse prisma: ou mostramos que a audiência caiu pela metade em comparação com as transmissões da Globo, ou mostramos que o SBT bombou seus números tradicionais e conseguiu na final o feito histórico de liderar o Ibope em SP contra a novela das nove, o que o futebol não via desde a decisão do Mundial de Clubes de 2000, quando o Corinthians foi campeão em cima do Vasco nos pênaltis.
Particularmente, prefiro olhar a importância que a Copa América teve para um todo no projeto do SBT. Se fosse uma competição isolada na grade da emissora, com equipe de aluguel, etc, poderíamos analisar como ruim o fato de ter liderado na média apenas com a última partida, um Brasil x Argentina.
Mas sigo na linha que apresento desde setembro do ano passado, na Libertadores: se há perda de audiência e alcance, o problema não é do SBT, mas todo da Conmebol, e ela não parece estar incomodada. Tanto que, sabendo da baixa nos números de sua principal competição de clubes, insistiu e vendeu também a Copa América para a emissora.
O SBT teve três momentos-chave com futebol de um ano para cá. Transmitiu o Fla-Flu que decidiu o Campeonato Carioca 2020, mostrou uma final brasileira da Libertadores 2020, já em janeiro deste ano, e exibiu um Brasil x Argentina valendo taça.
Na primeira vez, tinha uma equipe emprestada, a transmissão era apenas pontual. Téo José, convidado a narrar, ainda era funcionário do Fox Sports em tempos de dúvidas sobre a fusão da ESPN Brasil. Foram chamados alguns ex-jogadores, usada a equipe de reportagem do SBT Esporte Rio, a audiência veio (26 pontos de média no RJ, com direito a empate com o JN e novela da Globo), e tudo deu certo.
Mas o que o SBT tinha a apresentar ao fã de futebol que passou pela grade da emissora naquele dia? Tirando a região Nordeste, eram 17 anos sem transmitir a modalidade para o restante do país. Nada. Nada a mostrar, a não ser anunciar os produtos de entretenimento do canal.
Em janeiro de 2021, a coisa mudou. O SBT tinha equipe própria, Téo José já era contratado da emissora, Mauro Beting se consolidava como comentarista principal, André Galvão e Fernanda Arantes atuavam nas reportagens, e o futebol ia ganhando uma “cara”. A média ficou entre 25 e 26 pontos no Ibope em SP, o título do Palmeiras sobre o Santos na final da Libertadores entrou para a história, mas o que havia para anunciar ao público do futebol? A próxima Libertadores, que começaria 39 dias depois.
Desta vez, o SBT conseguiu picos de 24 pontos em São Paulo, teve boa audiência também no RJ (embora não tenha vencido a Globo na média), e aproveitou a final da Copa América para desfilar ao telespectador eventual um pacote muito mais completo. Tem jogo de Libertadores já para terça-feira (São Paulo x Racing), tem Supercopa da UEFA para 11 de agosto, tem UEFA Champions League vindo dias depois.
Isso se chama “criação de cultura futebolística”. TV aberta funciona na base de costume e cultura. A quantidade de seguidores do nosso blog “perdidos” no Twitter e no YouTube querendo saber onde seria transmitido o Palmeiras x Santos do último sábado (10), um jogo que estava na Globo, de graça, mostra que os telespectadores nem imaginaram que essa transmissão seria possível. Motivo: futebol na Globo é de domingo às 16h e quarta às 21h30. Fugiu disso? Bagunça nas mentes dos torcedores.
O SBT não é um canal conhecido por futebol. Nem poderia ser, após ficar de 2003 a 2018 sem jogo algum na grade em todo o país, e entre 2018 e 2020 só mostrando regionalmente a Copa do Nordeste. Mas está começando a ficar.
O fã do esporte mais popular do país começa a ter que sintonizar a emissora cada vez em mais oportunidades. Para ver a Libertadores, para ver a Copa América, para ver a Champions League, outros torneios menores da Conmebol que vieram no pacote também poderão ser exibidos nos próximos anos, com destaque para o Pré-Olímpico que dará vagas nos Jogos de Paris-2024. Isso é cultura esportiva.
Teria sido mais fácil para a Band, é claro, que é conhecida até hoje como “O Canal do Esporte” mesmo não sendo nem 10% do que foi um dia com Luciano do Valle. Mas o SBT mostrou que o trabalho está no caminho certo. Resgatou elementos históricos, como a trilha sonora e o Amarelinho, sem perder a sintonia com a modernidade em cenários muito bonitos e tecnológicos.
Ainda há muita coisa a percorrer. A emissora peca feio com os cortes bruscos após os jogos, entregando para o Programa do Ratinho e “expulsando” o fã do futebol em jogos que terminam mais quentes, como foi o caso daquele Brasil 2 x 1 Colômbia na fase de grupos. A grade também é fraquíssima, o que faz com que as transmissões esportivas peguem um Ibope muito baixo, prejudicando a média geral das partidas.
Mas é inegável que o SBT correu atrás de todos os outros pontos que criticamos desde setembro. Montou um programa semanal de esportes, o Arena SBT, preencheu a grade com o SBT Sports nas manhãs de domingo. Ainda falta algo em um horário mais amigável. Não para concorrer com Globo Esporte e Jogo Aberto, claro, seria terrível e desfavorável para a emissora essa disputa. Mas quem sabe um rearranjo no fim de tarde, um bloco fixo dentro do SBT Brasil? Ideias não deverão faltar.
Necessário também destacar que a emissora criou um site de esportes, usando a marca “SBT Sports”, que sinaliza um caminho certo em tempos tão digitais. A página ainda é ruim, usa o mesmo espaço do site do SBT (que não tem layout próprio de notícias, sendo mais parecido com releases de emissora na estética), mas deve evoluir muito, porque já há o trabalho feito com o SBT News atualmente. É só seguir o padrão.
Competições que não cabem na grade da TV aberta, como foi recentemente o caso das eliminatórias sul-americanas de futebol de areia, poderiam ser exibidos na internet em uma plataforma própria. Não seria bom? O fato é que hoje o SBT é um player a ser respeitado e ouvido nas questões de direitos de transmissão.
Fusão ESPN-Fox chega ao auge com a Copa América
O processo de fusão dos canais Disney, com a junção dos times de ESPN Brasil e Fox Sports, começou em 2020. Mas foi feito aos poucos com a integração de funcionários, marcas, etc. A temporada europeia que começou já na pandemia e terminou recentemente foi usada para implantar esses novos tempos, uma “troca de pneus com o carro andando”.
A Copa América, primeiro grande torneio exibido já com os pneus trocados, mostrou o auge dessa junção. Os jogos foram divididos entre ESPN e Fox sem a necessidade legal disso (na Libertadores, por exemplo, a Disney é obrigada por uma acordo com o Cade a manter os jogos no Fox Sports), mas como estratégia por audiência. As partidas mais importantes ficaram na ESPN, enquanto a Fox deu suporte nos demais jogos.
Com Paulo Andrade, Nivaldo Prieto, João Guilherme e Luiz Carlos Largo na maioria dos jogos, ficou claro o que saiu da fusão: uma equipe forte com estilos diferentes e para todos os gostos. A pandemia ainda impede a volta aos estúdios, programas como o SportsCenter e Bate-Bola seguem remotos e assim deve ser até que as coisas fiquem mais tranquilas.
As audiências, sempre altas, mostraram que a tradição – principalmente da ESPN – foi capaz de migrar o público esportivo que era acostumado a ver a Copa América no SporTV. Melhor ainda para a Disney: vai se criando a cultura de que competições sul-americanas são em seus canais, já que também exibe a Libertadores.
Em agosto, a empresa lança o seu novo streaming, o Star+, que deverá ter conteúdos esportivos e os sinais da ESPN. No fim do ano se encerra o prazo para a manutenção da marca Fox Sports no ar, podendo virar tudo “ESPN” se assim a Disney quiser. A Copa América deixou claro que agora é só questão de estratégia: a fusão está funcionando – e bem.
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