O Brasileirão 2019 representou um aumento na quantidade de jogos disponíveis para o assinante de TV paga. Até o fim do contrato anterior, o SporTV tinha a exclusividade nessa mídia e transmitia, em média, 76 partidas por edição. Com a chegada da concorrente Turner, a TNT exibiu 42 jogos, e, mesmo com a queda para 60 duelos no canal da Globosat, o total ficou em 102. Um aumento de mais de 34%.
Mas nem todo mundo pode aproveitar do mesmo jeito. Assinantes do SporTV e da TNT só tiveram todos os 102 jogos disponíveis em seu decoder de TV paga se fossem habitantes de estados sem representação na Série A. Isso porque na TV por assinatura vigora o bloqueio de praça, que impede a transmissão dos jogos para os estados onde são realizados.
Apenas quatro partidas não tiveram essa prática. Todas do Palmeiras jogando como mandante. Isso aconteceu porque o clube conseguiu manter a cláusula do contrato com a Turner, assinado em 2016, que previa o bloqueio de praça em dois jogos, liberando o sinal das demais. E assim foi nos duelos contra Fortaleza, Internacional, Santos (esses todos antes da assinatura do acordo de TV aberta e PPV com a Globo) e Ceará, este já na reta final da competição. Foram bloqueados os sinais apenas dos duelos do Verdão em casa contra Athletico e Bahia, jogos que a Globo transmitiu para São Paulo no sinal aberto.
Os demais clubes que assinaram com a Turner tiveram que modificar seus contratos por exigência da Globo, que topou acabar com a cláusula redutora de 20% nos contratos de TV aberta em troca do bloqueio de praça na TV paga. Assim sendo, tivemos 98 jogos na soma de SporTV e TNT bloqueados para os estados onde foram realizados. O Blog do Allan Simon mostra agora quais foram os mais prejudicados:
SC e RJ lideram ranking dos bloqueios de praça na TV paga:
Santa Catarina e Rio de Janeiro tiveram times apenas no SporTV no Brasileirão 2019. O canal da Globosat teve Avaí e Chapecoense entre os times que mais foram transmitidos, chegando a mostrar os dois clássicos entre eles para todo o Brasil, menos para o público que provavelmente mais se importava com o jogo, o catarinense. Desses 13 duelos fechados, sete tiveram o Avaí como mandante, e seis a Chape.
No caso dos cariocas, os 13 jogos bloqueados envolveram os quatro grandes do estado da seguinte maneira: seis do Botafogo, quatro do Fluminense, dois do Vasco e um do Flamengo. O time rubro-negro, aliás, teve bloqueada a partida contra o Avaí, justamente a única exibida pelo SporTV em todo o campeonato.
O terceiro lugar do ranking tem o estado do Ceará, com 12 jogos, um número que já era previsível antes do início da competição. Diferentemente do SporTV, que escolhia as partidas a serem exibidas a cada detalhamento de tabela publicado pela CBF, a TNT mostrou todos os 42 duelos aos quais tinha direito entre seus sete clubes do pacote, e isso incluía 12 jogos de cada um deles.
Ceará e Fortaleza foram times fechados com a Turner nesta edição. Portanto, os respectivos seis jogos deles como mandantes tiveram sinal bloqueado para o público cearense. Com isso, acabou acontecendo o mesmo problema de Chapecoense x Avaí no SporTV, com bloqueio de praça para o estado mais interessado no clássico em Fortaleza x Ceará nos dois turnos. Esse cenário deve se repetir em 2020 na TNT com a chegada do Coritiba e a volta do clássico contra o Athletico.
O Rio Grande do Sul é o primeiro caso “híbrido” deste ranking. Os grandes gaúchos se dividiram na TV paga em 2019. O Grêmio foi um dos times do SporTV, enquanto o Internacional fez parte do portfólio da TNT. Os seis jogos do Colorado, como já era esperado, foram bloqueados para o público do RS. E o Tricolor teve outras cinco partidas exibidas pelo canal da Globosat fechadas para os gaúchos, totalizando 11 jogos.
Este é o mesmo número de Minas Gerais (sete jogos do Atlético-MG e quatro do Cruzeiro, todos no SporTV) e São Paulo, que também dividiu seus grandes. O canal da Globosat ficou com São Paulo e Corinthians, enquanto a Turner teve Palmeiras e Santos.
Os seis duelos em casa do Peixe foram bloqueados, mas, como dissemos, o Verdão teve apenas dois restritos na TNT. O Tricolor teve dois jogos em casa fechados para os paulistas, enquanto o Corinthians teve apenas um, mas, assim como o Flamengo no RJ, também foi na única exibição alvinegra no SporTV.
Na sequência do ranking, aparece Alagoas, com nove jogos bloqueados, todos do CSA, seu único representante. As partidas foram exibidas pelo SporTV, que, no total, mostrou 15 jogos do time alagoano em todo o Brasileirão 2019.
Goianos e baianos tiveram seis jogos bloqueados cada um. O Goiás foi exibido pelo SporTV, enquanto o Bahia passou na TNT. Por fim, com o mesmo número de seis bloqueios, aparece o Athletico Paranaense, mas com um agravante. Sem contrato com a Globo pelos direitos de PPV, algumas partidas do Furacão na Turner eram fechadas para o público do Paraná e não tinham sequer a opção de serem vistas em outra mídia, provocando um apagão ainda maior.
Diferentemente da TV aberta, mídia na qual um estado que não pode ver uma partida quase sempre vê outra no lugar, a TV por assinatura não possui mais essa prática há mais de dez anos. Até meados da década passada, o SporTV fazia a transmissão simultânea de um jogo para a praça bloqueada na partida “nacional”, e essa partida a mais normalmente era exibida também para o estado de um dos envolvidos. Porém, como a ideia sempre foi aumentar o total de jogos exclusivos do PPV, e transmitir um jogo mesmo que fosse apenas para dois estados seria considerado na conta da TV paga, a prática acabou.
Bloqueios de praça e os clubes na TV paga
Para analisar o impacto dos bloqueios de praça na TV paga para as torcidas de cada clube em seus estados de origem não bastou apenas considerar os jogos deles como mandantes transmitidos e bloqueados pelos canais.
Nos casos de Santos x Palmeiras, na Vila, e dos jogos Ceará x Fortaleza e Chapecoense x Avaí, as torcidas mandantes e visitantes foram afetadas pelos bloqueios em suas respectivas regiões. É bem verdade que isso aconteceu com menos drama para os paulistas, que puderam ver o jogo em questão na TV aberta, mas aqui analisamos apenas a exposição na mídia TV por assinatura.
Confira abaixo o ranking total de partidas por clube na TV paga:
Agora veja o ranking do total de jogos disponíveis em TV paga no estado de origem de cada clube:
Usando esses dados de ambas as tabelas, pudemos montar um ranking comparativo que mostra o percentual de partidas bloqueadas nos estados de cada clube dentro do total de jogos exibidos de cada um no SporTV ou na TNT. Veja:
Conclusão: CSA, Botafogo e Atlético-MG, todos do SporTV, foram os times mais prejudicados proporcionalmente, com bloqueios entre 58% e 60% de seus jogos.
Os casos de Corinthians e Flamengo talvez nem mereçam comentários, uma vez que o Grupo Globo optou por manter os times o mais exclusivo possível no PPV (cada um deles teve 25 jogos completamente restritos ao Premiere) e só exibiu no SporTV uma partida de cada, na reta final da competição, e jogando como mandantes.
Isso não é inédito. O mesmo aconteceu com o Palmeiras em 2018 no canal. Mudando de “casa” para a TNT, o torcedor palmeirense que mora em São Paulo pulou de nenhum jogo disponível na TV por assinatura em 2018 para nove este ano. O time foi o menos afetado, com 25%, graças à cláusula no acordo com a Turner.
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