Por que precisamos tanto polarizar Felipão x Sampaoli?

Por que precisamos tanto polarizar Felipão x Sampaoli?

18 de maio de 2019 0 Por Allan Simon

O Palmeiras goleou o Santos por 4 a 0 no Pacaembu em uma noite inspirada de todos os seus jogadores, levados a campo por um treinador que soube exatamente como neutralizar o time adversário e montar a estratégia perfeita para vencer um clássico importante que deu ao Verdão a liderança do Brasileirão por mais uma rodada. O que se comenta: que o técnico do outro time “não é nada disso”, que “a mídia perdeu com seu queridinho”, etc.

O treinador que soube ganhar o jogo é Luiz Felipe Scolari. O que viu o seu time ser massacrado em campo é Jorge Sampaoli. Há algum tempo, a mídia e as redes sociais trataram de criar uma polarização (ao meu ver, burra) entre os dois profissionais. Antes mesmo do clássico começar, neste sábado (18), Felipão e Sampaoli se encontraram no banco de reservas, se abraçaram afetuosamente e conversaram por alguns segundos. Admiração recíproca.

Ambos chegavam ao Pacaembu trazendo times que fizeram 10 pontos em 12 possíveis. Ambos tinham desperdiçado pontos em apenas em um jogo, e da mesma forma: em empates contra o CSA em Maceió. A disputa deste sábado era um confronto direto pela liderança do Brasileirão 2019.

Por que não podemos simplesmente apreciar esse duelo de dois grandes treinadores? Por que precisamos polarizar o tempo todo? Por que achamos que elogiar Sampaoli é desmerecer Felipão? E por que achamos que gostar do estilo de Felipão é torcer o nariz para o jeito que Sampaoli joga?

Não sabemos aproveitar nada. Precisamos destruir o tempo todo. Mas o jogo começa. O Palmeiras amassa. Com uma marcação incrível, pressão elevada, o Verdão neutraliza o Santos e avança sem contestação. Abre vantagem de 2 a 0 ainda no primeiro tempo.  Mata a partida com mais dois gols no segundo. Leva a liderança para casa com 4 a 0 no placar. Faz história, mesmo tendo anotado apenas 35,5% de posse de bola, de acordo com o Footstats.

O Santos entrou bobo em campo, Sampaoli pode ser contestado na escalação inicial e por não ter usado Rodrygo (embora haja a informação do jornalista Ademir Quintino de que o jogador não atuou porque tinha problemas físicos), mas ainda assim conseguiu finalizar 12 vezes (cinco certas e sete erradas). O goleiro Weverton saiu de campo com pelo menos uma grande defesa no dia em que seu time massacrou e ganhou por 4 a 0. No começo do segundo tempo, parecia que o Peixe iria reagir. O Palmeiras não bateu em “ninguém”.

Dizer que Sampaoli é “mentira da mídia” é desmerecer não apenas seu trabalho com os limitados recursos de um Santos que viu seus principais nomes de 2018 irem embora no começo da temporada. É desmerecer não apenas o fato de que o argentino conseguiu colocar um clube desacreditado em condições de disputar liderança com o Palmeiras.

É, antes de tudo, desmerecer o trabalho que Felipão teve para aplicar 4 a 0 nele. É desmerecer o golpe de gênio que foi usar contra o Santos sua principal arma: a pressão, a intensidade. É desmerecer a atuação de cada um dos jogadores palmeirenses em campo. Lembrando que eles são muito criticados por “amolecer” e deixar escapar vitórias por “não matar o jogo”. O Palmeiras matou e foi perfeito.

Azar de Sampaoli, que não é menor, não é menos competente, e terá agora a missão de arrumar o time para seguir seu grande trabalho diante do Internacional, no próximo domingo (26), na Vila Belmiro. Sorte, mesmo, quem tem são os que conseguem extrair prazer por ver confrontos como um clássico no qual os dois times queriam jogar bola. A turma do mau humor, do clubismo, etc, talvez fique mais feliz com os vários 0 a 0 que temos visto em jogos assim neste ano.

Foto do post: Reprodução/Esporte Interativo