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Opinião: novo modelo de direitos do Paulistão choca, mas aponta o futuro

Paulistão 2022 na TV

Paulistão 2022 na TV

O Paulistão 2022 está chegando com muito mais novidades no campo dos direitos de transmissão e comercialização do evento do que propriamente em campo. Se dentro das quatro linhas teremos o já batido e repetido regulamento que coloca os 16 times em quatro chaves diferentes onde os integrantes não se enfrentam, fora delas tudo é novo.

O modelo de comercialização do Paulistão foi delegado pela FPF (Federação Paulista de Futebol) à agência LiveMode. Para quem não conhece, trata-se da empresa fundada pelos antigos donos do Esporte Interativo, negócio que revolucionou o acesso a eventos que estavam restritos à TV paga, fazendo parcerias com emissoras como RedeTV!, Band, Gazeta, Cultura e NGT, antes de virar um canal próprio e construir toda uma história na mídia esportiva brasileira.

A LiveMode não é uma estreante no mercado, como era o caso da Sportsview no Cariocão em 2021. A agência que assume o Campeonato Paulista já traz na bagagem, por exemplo, a experiência com a Copa do Nordeste, justamente herdada após o fim dos canais lineares do Esporte Interativo na televisão paga em 2018.

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Quem já viu ou conhece o modelo da Copa do Nordeste não se surpreende com a forma como o Paulistão foi vendido. Na competição nordestina, o SBT tem os direitos de transmissão em TV aberta, a Disney, por meio do Fox Sports, possui o pacote de TV paga, o TikTok transmite por streaming gratuito, enquanto o NordesteFC é o PPV próprio da competição, vendido por streaming pago na internet e fornecendo conteúdo para um pay-per-view em operadoras de TV por assinatura.

Pois, bem. Algo parecido aconteceu no Paulistão. A LiveMode pegou os 110 jogos do torneio e dividiu em pacotes. Primeiro acertou um deles, com 16 partidas, com o Google. A gigante da internet é dona do YouTube, o maior site de vídeos do planeta, plataforma que terá um jogo por rodada na fase de grupos, uma das quartas de final, uma semifinal, além de ida e volta da grande decisão.

Outro pacote igual, mas com jogos diferentes até as semifinais, foi vendido para a Record em TV aberta. Globo e SBT chegaram a participar da concorrência. Segundo o jornalista Flávio Ricco, até a Band entrou na parada. Mas prevaleceu a emissora de Edir Macedo, que entra aos poucos no mundo do futebol após anos de ausência. O retorno se deu em 2021 com o Cariocão, e neste ano a Record terá os dois maiores estaduais do país dividindo rede.

Um outro pacote muito atraente para os meios pagos foi vendido pela WarnerMedia, desbancando as notícias que apontavam o interesse da Disney. A dona da TNT Sports (antigo Esporte Interativo) resolveu usar seus jogos apenas no streaming pagos por meio de duas plataformas, a HBO Max e o Estádio TNT Sports. A TV por assinatura ficou fora.

Serão 29 jogos transmitidos ao todo pela TNT Sports nos dois streamings. O melhor para a WarnerMedia foi a garantia de que 13 deles (1 por rodada e mais uma das quartas de final) serão tão exclusivos, mas tão exclusivos, que nem o PPV da competição poderá exibir ao vivo.

E falando em PPV, outra surpresa. O Paulistão quebrou paradigmas e terá dois serviços diferentes comercializando os jogos. Serão 97 partidas, sendo 49 exclusivas dessa mídia, mas oferecidas ao mesmo tempo no Premiere, do Grupo Globo, e no Paulistão Play, aplicativo oficial da FPF que será tocado pela LiveMode, a exemplo do Nordeste FC.

Ainda não foi divulgado o valor do Paulistão Play, mas não deverá ser o mesmo do Premiere, que terá o diferencial de ser um canal disponível na TV paga, oferecerá outros estaduais, como o Pernambucano, o Mineiro e provavelmente o Gaúcho. Espera-se que o app da FPF custe menos que os R$ 59,90 cobrados pelo PPV da Globo e ainda ofereça a totalidade da Série A2 do Paulistão.

O uso desse tipo de divisão de jogos no futebol começa a se integrar aos poucos à rotina do torcedor. Além da Copa do Nordeste, outra experiência que já marcou muita gente foi da agência FC Diez Media, que fez em 2018 a licitação dos direitos de transmissão da Libertadores pelo período entre 2019 e 2022.

Na ocasião, foram criados um pacote de TV aberta com um jogo por rodada e mais a final única (vencido pela Globo), um principal de TV por assinatura com exclusividade da final única nesta mídia (vencido pelo Fox Sports), um secundário de TV paga em relação às escolhas, podendo mostrar a decisão apenas em VT com delay (vencido também pela Globo para o Sportv), e um último pacote que dava a exclusividade absoluta dos jogos de quinta-feira, mas só ia até as quartas de final (vencido pelo Facebook).

Hoje, como sabemos, a Globo rescindiu há quase dois anos o seu contrato com a Conmebol e os pacotes foram herdados pelo SBT, em TV aberta, e pela Conmebol TV, canal formado pela entidade com a Band e as operadoras Sky e Claro para a venda dos jogos em PPV.

Mas ali já era um indicativo para o torcedor: é preciso olhar para a pulverização dos direitos. A exclusividade total dos torneios, como a Globo bancou por anos no Brasil, não é mais sustentável. Os campeonatos se valorizaram, e as empresas aprenderam que exclusividade relativa, ou seja, a de um pacote de jogos e não do torneio inteiro, também pode ser muito lucrativa. Até mais, inclusive.

Não é difícil imaginar que o modelo aplicado pela LiveMode no Paulistão seja replicado pela CBF na Copa do Brasil futuramente. Ou, mais provavelmente, por quem quer seja a agência que assumir as negociações de uma possível liga de clubes responsável por gerir o Brasileirão a partir de 2025.

O torcedor tem todos os motivos do mundo para não gostar, torcer o nariz diante desse cenário. Afinal, de cara é possível ver que antigamente bastava assinar o Premiere para ter acesso a 100% dos jogos. No Paulistão isso já não será possível. Como a HBO Max e o Estádio TNT Sports terão 13 jogos exclusivos a ponto de não estarem no PPV, será preciso assinar mais de um serviço para garantir toda a competição.

Mas há outro lado também. O Paulistão desde 2003 não tinha tantos jogos disponíveis gratuitamente em um formato de tiro tão curto. Naquela edição conturbada e marcada por briga judicial e guerra de liminares entre SBT e Globo, o pacote oferecido pela FPF à emissora de Silvio Santos tinha três jogos por rodada aos fins de semana e mais um às quartas-feiras. Contando fase de grupos e mata-mata, foram 25 jogos transmitidos ao vivo em TV aberta.

No ano passado, por exemplo, com a Globo tendo a exclusividade total da competição, a TV aberta transmitiu apenas oito jogos. Isso mesmo, só oito. Entre problemas com datas por causa da pandemia e uma nova paralisação temporária do futebol, mas também por priorizar o BBB na grade, a emissora carioca levou ao ar apenas quatro jogos nas 12 rodadas da fase de grupos, além de quatro no mata-mata.

Com a Record estão garantidos 16 jogos de graça. Que, a bem da verdade, era o que a Globo podia transmitir também até 2021, mas não fazia porque não interessava à grade do canal. Só que agora, em 2022, a internet possibilita mais 14 jogos gratuitos por meio do YouTube (sim, a plataforma de vídeos terá 16, mas as duas finais também estarão na Record).

Claro que a situação ainda requer algo difícil para o povo brasileiro, uma conexão de banda larga decente a ponto de rodar sem sustos um streaming de duas horas ao vivo, mas a oferta está aí. Serão 30 jogos gratuitos ao todo.

O assinante de TV paga também pode chiar. Se o Sportv até 2021 tinha em média quatro jogos por rodada, agora, devido à estratégia da WarnerMedia, a TV por assinatura estará fora do Paulistão. Mas, por outro lado, é muito mais barato assinar a HBO Max ou o Estádio TNT Sports do que bancar os pacotes de TV que possuem o Sportv. Novamente fazendo a ressalva de que para isso é preciso ter uma ótima banda larga, evidentemente.

Gostando ou não, o torcedor vai ter que se acostumar aos poucos tanto a esse novo cenário que o tirou de sua zona de conforto de saber que jogos eram sempre encontrados nos canais do Grupo Globo, quanto a uma nova realidade que exige mais despesas financeiras para ter acesso a todos os jogos.

Ou, ainda que o Paulistão Play venha com uma oferta agressiva de preços que torne mais barato assinar seu plano na soma com a HBO Max do que o torcedor pagava antes só no Premiere, o fã de futebol pode se incomodar com a quantidade de assinaturas e aplicativos para cuidar.

Mas o fato incontestável: esse é o modelo que representa o futuro a curto prazo dos direitos de transmissão no Brasil. Dificilmente uma Globo poderá ter de novo o monopólio das competições, ou mesmo a exclusividade absoluta delas, agora que clubes, federações e agências sabem que desmembrar os jogos em pacotes pode ser muito mais rentável.

A LiveMode conseguiu fazer o impensável: com tantos pacotes vendidos, o Paulistão arrecadará mais do que a FPF e os clubes ganhavam da Globo até 2021. Em tempos de economia e crise, cofres fechando ou esvaziando, fazer isso com um estadual que não se moderniza em campo há quase uma década é um feito e tanto.

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