Análise: Reprises da Globo mostraram força do futebol, mas falta de rivalidades pesou

Análise: Reprises da Globo mostraram força do futebol, mas falta de rivalidades pesou

11 de junho de 2020 0 Por Allan Simon

Durou praticamente dois meses a experiência da Globo com a transmissão de reprises de jogos de futebol nas tarde de domingo. Serviu para garantir exposição aos patrocinadores cotistas do calendário anual em tempos de tudo parado no mundo esportivo por causa da pandemia do novo coronavírus.

O fim das reprises basicamente se deu porque a audiência vinha em queda. O repórter Gabriel Vaquer mostrou no UOL Esporte, semana a semana, como foram os números das médias de audiência em SP e no RJ. Os dados completos foram compilados em reportagem publicada na terça-feira (9) e que você pode ler aqui.

Vejo como natural a perda gradual do interesse. O Brasil que entrou na pandemia em março e ficou sem nada de futebol nas tarde de domingo até as reprises começarem em abril é completamente outro quase 40 mil mortes e três meses de isolamento depois.

Já não estamos mais no mesmo clima e nem tudo o que dava certo agora funciona. Até mesmo as lives, produtos novos das redes sociais, andaram perdendo fôlego.

Fora isso, analisando os números de São Paulo, me chamou atenção que nem mesmo o Corinthians, tradicional líder de audiência da emissora entre os paulistas, conseguiu cravar os 15 pontos de média que uma final recente da seleção brasileira em uma Copa das Confederações enganosa e com jogo definido ainda no começo do segundo tempo marcou.

A diferença de quase 50% de pontos entre os 14,9 pontos da reprise da final do Mundial de Clubes de 2012, entre Corinthians e Chelsea, e os 10 pontos marcados por Palmeiras x Deportivo Cali, da Libertadores de 1999, precisam ser observados tendo em conta que no dia da reexibição da conquista alviverde houve um confronto entre manifestantes e policiais em São Paulo e no Rio de Janeiro, com clima bastante tenso na política nacional.

Mesmo assim, o resultado palmeirense foi muito aquém do normal. Perdeu até para Santos x Peñarol, da Libertadores de 2011, que fez 10,3 pontos em um dia que também teve manifestações políticas em várias partes do Brasil. O fator nostalgia, sendo a conquista alviverde mais antiga, deveria ter tido um índice melhor, mesmo parte da torcida tendo sua relação de reprovação com a emissora.

Mas o fato é que a seleção brasileira rendeu mais audiência porque trouxe lembranças de tempos que hoje estamos longe de viver. O time da CBF não tem mais metade do carisma que a seleção que conquistou o penta em 2002 (e olhe que naquela época já havia críticas sobre a perda de identidade da equipe brasileira por questões financeiras). Muito menos que a do tetra, em 1994.

O que faz a audiência do futebol de clubes, além do tamanho de suas torcidas? A rivalidade. Ver o seu time campeão é sensacional. E foi isso que levou corintianos, são-paulinos, santistas, palmeirenses, flamenguistas, botafoguenses, vascaínos, tricolores cariocas, gremistas, colorados, cruzeirenses, atleticanos e tantos outros espalhados pelo Brasil a ficar na frente da TV ligada na Globo em uma tarde de domingo vendo um jogo antigo.

Mas o que faria um torcedor ver o jogo de uma equipe rival? Torcer contra, secar. Ninguém poderia perder tempo secando o Corinthians. O Chelsea não faria no VT integral o gol que Cássio impediu diversas vezes ao vivo em dezembro de 2012. Não gostar do Palmeiras e ficar na frente da televisão secando não faria o pênalti de Zapata se deslocar um pouco mais para dentro e manter o Deportivo Cali na disputa pelo título.

Trazer conquistas dos grandes clubes à televisão foi bom para render quatro semanas de exposição do produto futebol na grade de domingo da Globo. Mas parecia claro que a audiência não seria a mesma.

Que corintiano quer lembrar quando o São Paulo ganhou o Mundial de Clubes da Fifa diante do Liverpool, com direito a Rogério Ceni provocando e dizendo que “para conquistar o mundo é preciso atravessá-lo”, em clara referência ao até então único título internacional relevante da equipe alvinegra, o Mundial disputado no Brasil em 2000?

Qual são-paulino tinha interesse em ver o Palmeiras ganhando do Deportivo Cali nos pênaltis, ou o Santos de Neymar batendo o Peñarol no Pacaembu, ambos conquistando a Libertadores, título que o time do Morumbi faturou três vezes em sua história?

Um time de futebol não faz audiência na Globo apenas pela sua capacidade de levar seus torcedores à frente da TV. Mas também de provocar rivais a parar diante dela só pelo prazer de secar. O resto é o que chamamos de “piso”, aqueles que assistem a qualquer jogo que estiver sendo transmitido pela Globo. Nos últimos anos, esse índice ficou em 13 pontos marcados por guerreiros que viram a bola rolar até em sábado de carnaval.

Ou seja, assim que jogos como São Paulo x Liverpool, Palmeiras x Deportivo Cali, Santos x Peñarol e a final feminina do Pan 2007 tiveram índices menores que esse, o sinal de alerta foi disparado. E terminou na hora certa. Todo mundo teve a chance de rever uma conquista. Agora é a hora de pensar adiante em novos formatos.

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